Preparei esse post para sair em 1º de agosto: “chegou agosto de 2020, e o que você fez?”, pensei eu. Deixei o texto nos rascunhos, e agora me dei conta de que já terminou o mês que é considerado um dos mais longos do ano.
Pra pergunta acima, acredito que muitos responderiam de pronto: NADA.
Passaram-se cerca de 5 meses desde que começou o isolamento social no Brasil, quando fomos forçados a suspender sonhos e projetos, e a cancelar compromissos. Uma rasteira do destino, para muitos.
Depois de tantos meses, deu tempo de acostumar? Deu tempo de catar os cacos espalhados pelo chão? Curar as feridas? Retomar o fôlego? O que você fez?????
Eu diria que o pouco que qualquer um de nós fez, já é muito, considerando que a nossa única prioridade nesse momento deve ser manter-se saudável e sobreviver.
No macrocosmos, não temos controle mesmo. Mas e no microcosmo, na vidinha que a gente leva no dia-a-dia, te pergunto: se tivesse a oportunidade, e os recursos necessários, que coisas você gostaria de retirar ou incluir na sua rotina, nos seus hábitos, nesse período de pandemia?
Pode ser qualquer coisa, melhor ainda se for bem pequena.
Como fez o consagrado ator britânico Patrick Stewart (o Professor Xavier, na franquia de filmes dos X-MEN). Há alguns meses, descobri por um acaso a conta dele no twitter, onde ele posta vídeos diários, declamando os sonetos de Shakespeare, com a #ASonnetADay (Um soneto por dia).
Fui atrás e descobri que em 21 de março – exatamente na semana em que começaram as medidas de isolamento social no Brasil – ele fez a leitura do Soneto 116, e repercutiu muito bem.
No dia seguinte, ele começou a série de vídeos, lembrando a sua infância, quando sua mãe oferecia frutas, citando o ditado “An apple a day keeps the doctor away”, que em livre tradução, seria algo como uma maçã por dia, te livra do doutor.
Nesse vídeo e em muitos outros, uma feliz coincidência (sincronicidade) para mim: o ator usa a camiseta da cantora e compositora Gillian Welch, nomeada ao Oscar 2019, conhecida por suas doces e sóbrias canções no estilo country-folk norteamericano. Em outro vídeo, o ator se dá conta de que vai ler o soneto nº 80 às vésperas do seu aniversário de 80 anos.
Em vez de o soneto do dia, faço uma série de outras pequenas coisinhas, na medida do possível, no tempo que tiver disponível.
Sinto que a maior parte do tempo concentramos nossos esforços para atingir objetivos grandiosos, metas relevantes. Mas estou convicta de que as pequenas coisinhas é que fazem um cotidiano mais leve e que renovam nossa bateria para enfrentar a dureza da realidade, ainda mais num contexto de pandemia. .
Até esse período terminar, eu quero aprender a fazer a torta salgada da minha mãe, terminar mais um caderno de páginas matinais, e completar 30 práticas de yoga – sem a autoimposição de fazer todos os dias, mantendo apenas uma sequência regular e consistente. Se quiser, comente também qual a pequena coisinha que renovou seu ânimo durante a pandemia, ou que põe um brilho a mais no seu dia-a-dia.
Quando abordo esse ponto no curso, alguns alunos demonstram de imediato uma hostilidade defensiva: ‘Mas você sabe qual será a minha idade quando eu chegar ao ponto de realmente tocar bem o piano/atuar/pintar/escrever uma peça decente?’ Sim…a mesma idade que você terá se não tentar. Então vamos começar.
Do livro O Caminho do Artista, de Julia Cameron